sexta-feira, 1 de abril de 2011

Pintar & Respirar

Alexandra Carvalho © - Pintura de capas
Aguarela sobre papel de aguarela, 2010

“A pintura e as imagens, em geral, têm uma especial relação para com as forças que partem do coração. Assim como as cores vivem entre a luz e as trevas a alma humana vive também entre a alegria e a tristeza, prazer e sofrimento. A alma pode ser comparada ao aparelho respiratório: ela somente é sã, quando respiramos harmoniosamente, quando os dois processos de inspiração e expiração se realizam com exatidão. Quando a pessoa já não consegue mais ‘respirar’ com a sua alma, vai adoecendo, principalmente nas regiões do aparelho respiratório e circulatório.” Dra. Margarethe Hauschka

Na Terapia Artística, a pintura está relacionada ao sistema rítmico (respiração e circulação) onde está a esfera dos nossos sentimentos e emoções – a vida anímica. Atuando principalmente através das cores, a pintura é a técnica que ajuda “a alma a respirar”.
Quando pintamos a alma é tocada pelas cores. Esta deve ser uma atividade que, além das indicações terapêuticas corretas, tenha também o elemento do prazer e do entusiasmo. Esse movimento anímico ativa as forças vitais, provocando uma vivificação interna e fazendo com que o sistema glandular realize melhor as suas funções. É também pela respiração rítmica que o pólo neuro-sensorial (pensar) se liga ao pólo metabólico (vontade) e dessa atividade depende muito do nosso bem-estar. Quando não há esta conexão, nos sentimos desanimados, desvitalizados, porque a respiração enfraquecida produz pouco calor para elaborar corretamente as substâncias.


O universo cromático representa de forma objetiva a alma humana. No espectro do arco-íris encontramos a totalidade: entre o claro e o escuro tem-se o caminho das cores, cada qual com o seu caráter individual, que se intensificam e se complementam de maneira harmoniosa. O amarelo é a cor mais próxima da luz, radiante e alegre. Indo um pouco em direção oposta da luz, temos o laranja, dando uma impressão maior de calor e energia. Outro passo adiante entramos no vermelho, a cor da ação, do entusiasmo. Essas são as cores de temperatura quente. Numa faixa de tempero, entre o amarelo (quente) e o azul(frio), encontramos o verde; os olhos e a alma repousam em equilíbrio. Depois vem o azul, a cor mais próxima da escuridão, tranquila, profunda e absolutamente fria. Se o amarelo nos traz alegria, o azul é o contraponto. O violeta já não é tão frio, pois é o azul misturando-se ao vermelho.

As cores constituem um elemento rítmico-respiratório na sua própria alternância entre “cores quentes” que são ativas e expansivas e as “cores frias”, passivas s e contraídas. 
O que nos dá um indício de como utilizá-las em casos de doenças consideradas “frias” como o reumatismo e o câncer, onde a terapêutica indicada é a vivência com as cores quentes. E o oposto, as doenças inflamatórias (calor excessivo) encontram equilíbrio nos verdes e azuis.

A pintura terapêutica tem como principal técnica a aquarela, que se caracteriza pela transparência, o que torna as cores mais respirantes. A aquarela possibilita também a criação de inúmeros matizes e nuances, dando à alma, através dos olhos, mais condições de vivenciar e expressar os seus conteúdos. Além de ser um material não-tóxico.

Na aquarela podemos usar o papel previamente molhado, o que estimula a fluidez, 
a espontaneidade e a coragem; a nível orgânico, estimula todos os processos de excreção. 
E é através desta técnica que as funções glandulares são mais ativadas. No papel seco, fazemos o “velado”, a pintura é elaborada em camadas: espera-se a superfície pintada secar para aplicar a próxima. Usada nas situações em que é necessário tomar distancia das emoções para trazê-las à consciência. Sendo uma técnica demorada, requer paciência. Há também situações em que precisamos da cor, mas pela característica da doença (hemorragias ou uma colite ulcerosa) não é indicado lidar com a água, usamos então o lápis de cor, de cera ou o giz pastel.

A respiração pode ser também enfatizada pela maneira como utilizamos o pincel. Pinceladas longas e ritmadas colaboram na consciência do inspirar e expirar, quando são curtas e agitadas tendem a prender a respiração.

Matéria publicada no boletim da AURORA, Associação Brasileira de Terapeutas Artísticos Antroposóficos.

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